quinta-feira, 22 de agosto de 2024

 

…envelhecer!

Nada como ficar doente para darmo-nos conta das nossas limitações, do quanto usamos os nossos corpos sem ao menos perceber a relação da causa efeito que é cada movimento, e cada pequeno movimento envolve tantos pormenores musculares e de neurónios que se calhar é melhor mesmo não percebermos toda ação interna decorrente dos mesmos, para não darmos em “doidos”. Mas o que mais me interessa aqui é algo simples, como estarmos a lidar com o nosso envelhecimento, como estarmos a lidar com os nossos idosos, como envelhecer com qualidade de vida e dignidade, foram estas as indagações que fiz neste período de convalescença de uma gripe.

Fisiologicamente envelhecemos os nossos órgãos pelo uso e pelos excessos, pela má gestão dos stresses pelos quais passamos, quer queiramos ou não, e por fatores genéticos que trazemos de herança. Ou seja, cada dia que vivemos, na verdade estamos a gastar o nosso reservatório vital, e faz parte. O que não faz parte é o “excesso”, é a falta de responsabilidade ou comprometimento que temos com algo simples como a nossa saúde e qualidade de vida. Eu, assim como provavelmente você, recebo imensos textos e emails sobre pessoas que no final da vida se perguntam porque não se cuidaram melhor, porque não fizeram isto ou aquilo…enfim, depois do leite derramado não dá para chorar, já foi!

Posto tudo isto, o que fica?!?! Fica a necessidade de cada um assumir um compromisso com a vida, com a sua vida, com a vida da natureza, com a vida dos mais velhos e dos mais novos, com a ecologia e com o planeta. Sim, o compromisso é grande e vai da mais ínfima coisa até à mais gigante, que é a vida de outro ser, seja humano, mineral, animal ou vegetal. Então, o comer com consciência, o usar produtos biológicos, o não desperdiçar água ou comida é o mínimo que podemos fazer, o cuidar do como comemos em termos de quantidade também é importante porque não precisamos nos “matar” comendo. Ao contrário, já ficou provado que o jejum faz um bem danado para a saúde. Então, são muitas pequenas atitudes que podem mudar a nossa qualidade de vida hoje e que vão resultar num envelhecimento com qualidade de vida lá na frente e, se hoje isto não é sua preocupação, acredita que um dia será com a graça de Deus, porque envelhecer é uma bênção para quem o faz de forma consciente e com qualidade.

Atendo pessoas com variadas idades e quando vejo pessoas já com uma certa idade que estão aí para as curvas, todas da vida, sempre quero saber como foi a vida desta pessoa, o que ela fez e faz para seguir assim tão cheia de energia, e as respostas embora variadas acabam por serem resumidas a comerem de forma saudável, a terem hobbies, a terem projetos pessoais, a estarem ativos mentalmente e a estarem em contato direto com a natureza, seja com jardinagem, ou a caminhar, ou a pescar, ou até mesmo a correr com os netos nos jardins depois das aulas. Ou seja, não parece tão difícil, não é mesmo?

Só que se eu perguntar agora quando foi a última vez que dormiu descansadamente, que acordou com calma e tomou o pequeno almoço com a família, ou tirou tempo para caminhar, correr, rir ou dançar, o que poderia me responder? Quando foi a última vez que ficou em casa simplesmente a ler, não porque estava doente ou entediado, mas por escolha? Quando foi a ultima vez que saiu e dançou até doer as pernas e o corpo todo? Quando foi a última vez que riu tanto que se dobrou sobre si mesmo quase sem respirar? É, parece fácil, mas não é…

Vivemos a vida como se tivessem “os amanhã”, mas o amanhã é hoje e isto precisa ser integrado sem neurose e com assertividade, porque a vida exige sempre montes de coisas nossas, as pessoas, as nossas próprias crenças do “tem que” e isto é uma consumição que leva os nossos dias, semanas, meses e anos. Então, quando se adoece, podemos perceber o que de fato interessa, e saúde interessa muito. Sem ela nada fazemos ou somos. É hora de parar e reorganizar a sua vida para que a saúde seja meta de todos os segundos, que o Ser Feliz seja uma ação simples como o ouvir pássaros e o riso de quem amamos ou até de desconhecidos. Que o cuidar de si mesmo não seja relegado só a um check up anual, mas com a prática diária de uma alimentação equilibrada, com pausas para respirar e falar com quem ama, com tempo para meditar ou acalmar a mente, com o caminhar no parque mais próximo de si, com a pratica de um hobby e planos para viver cada vez mais o que quer como um todo.

E há algo aqui fundamental, quando for sair com pessoas mais velhas não os apresse no falar ou caminhar, pare e ouça com calma ainda que seja a milésima vez que ouve o mesmo tema, porque é duro estar limitado no corpo ou na mente, é duro especialmente para quem foi muito ativo e há na velhice uma grande lição de aceitação e humildade porque depender dos outros é um exercício para os fortes. Quanto mais vivo mais percebo a necessidade do tempo de cada um, e quanto mais velha fico melhor percebo as guerras internas de quem luta para se manter ativo porque é uma forma de sentir-se vivo, de sentir-se parte de um todo… respeitar os mais velhos porque um dia com a graça de Deus havemos de lá chegar e com saúde física e mental para gozar esta fase. E até lá é cuidar-se mesmo com o empenho e compromisso que isto requer.

A saúde é o nosso bem maior, a saúde do planeta é o nosso legado de amor a vida e aos que vem depois de nós, precisamos nos lembrar disto e fazer a nossa parte no que concerne a ambos. E ecologia é outro compromisso bom de assumirmos, mas isto já é tema para outro dia, para já cuide do seu corpo como um todo e logo vemos o que vem daí.

Que Março nos traga tempo para cuidar de nós próprios onde mais precisamos, seja no corpo, seja na alma, seja na mente, seja a descansar ou a sair da inércia, seja em casa ou no trabalho, seja sozinho ou com a família, e que cada um possa acordar para a maravilha que é estar vivo e saudável.

Jaqueline Reyes


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