quinta-feira, 22 de agosto de 2024

 

Fragilidade

Photo by Samuel Silitonga from Pexels

A vida mudou muito nos últimos meses e fiquei afastada para poder absorver o mundo de coisas que aconteceram comigo e com os meus. Escrever é abrir a alma até mais do que abrir o coração, por isto precisava de tempo para olhar para tudo, e neste tempo uma palavra tem sido constante: fragilidade.

A fragilidade da vida, que de um momento para o outro se finda, a fragilidade dos sentimentos que condicionam as nossas vidas e as nossas respostas a vida, a fragilidade dos pensamentos que por vezes consomem em “ses” e “tem que ser”, a fragilidade do amor que de alguma forma sempre pede por algo e nem todos são capazes de dar a “resposta certa”, a fragilidade das relações que se sustentam num só ser, a fragilidade das palavras que nem sempre traduzem tudo ou são compreendidas como foram ditas ou escritas… a fragilidade é uma constante em todo ser humano.

Como pessoa sempre olhei para a minha fragilidade com um certo quê de “medo”, afinal por natureza vou em frente, avanço sobre os “medos” e só desisto se não tiver outra forma. Mas precisei chegar aos 51 para perceber que a fragilidade é um “limite” de sanidade saudável, porque nos obriga a pensar, a rever, a equacionar se estamos no caminho certo, faz-nos mais humanos.

Na minha profissão vejo a fragilidade de terceiros todos os dias, vejo cada um dando o seu melhor para lidar com elas, e nestes últimos dois anos o estado de fragilidade ficou maior e mais abrangente. Hoje a fragilidade dos jovens tem haver com “não ter tempo para viver tudo o que querem”, para os mais velhos é a partida que fica mais próxima e no meio destas duas faixas etárias estamos nós que já vivemos algo mas não tudo, que temos filhos para educar e formar, que temos planos e sonhos ainda por realizar… só que de repente onde começa e termina a força e a fragilidade ?

Muito se tem falado sobre a desportista americana que deu um grito de “não posso mais”, que colocou para fora sua fragilidade… uns apoiam outros criticam, mas o fato é que uma pessoa para chegar neste ponto ultrapassou a si mesma. Então, quantas pessoas você conhece que já estiveram ou estão neste ponto? Você mesmo já esteve alguma vez neste ponto de “tirem-me daqui”?

Quem já lá esteve sabe que não é fácil ser forte por tanto tempo e de repente desmoronar, ninguém quer admitir a própria fragilidade, como se fosse uma vergonha. Como mãe constantemente reforço o fato de respeitarem o seus limites, e embora nem sempre as filhas ouçam, faz parte do pacote de ser adolescente o sentir-se invencível, e com isto as vezes só param quando já entraram na linha vermelha do limite. E aí surtam com uma pinta…a vida é assim para a maioria de nós, e não depende da idade ou educação, é um para mim um mistério por resolver. Porque não paramos no sinal amarelo, mas só no vermelho?

O olhar para a fragilidade nossa e de cada um com empatia, com a mente aberta é uma ótima opção, embora não seja fácil, mas quem sabe se cada um de nós se colocar no lugar do outro isto possa ficar mais leve. Sou muito a favor da ajuda profissional para trabalharmos estas questões de forma racional e equilibrada, ninguém tem que ficar sofrendo ou ter vergonha de se tratar, porque a fragilidade pode levar a extremos muito perigosos e que poderiam ser contornados ou até resolvidos de outra maneira.

Assim como o luto que tem várias fases, a fragilidade também as tem, e negar é uma delas a outra é se enterrar -se nela dizendo “eu sou assim e pronto”… gente, para tudo na vida há formas de trabalhar e tratar, mas colocar a cabeça no buraco não ajuda não, ao contrário, perde-se um tempo que não temos. Olhe para si mesmo hoje e veja o que gostava de melhorar, o que gostava de alterar na sua forma de ser e estar na vida, porque as vezes não podemos mudar o lugar aonde estamos, as pessoas com quem estamos, mas podemos mudar a forma como as vivemos, este é o ponto onde pode actuar e fazer diferença.

No Reiki usamos muito o “só por hoje”, e esta frase para mim é luz e amparo, porque só por hoje sou capaz de olhar para dor e dizer ok, você está aqui, mas houveram dias de alegria também. Só por hoje posso olhar para as saudades e lembrar que houveram abraços e risos, posso olhar para a vida e perceber que há muitos altos e baixos e que fazem parte, e tudo bem.

A vida muda, nós mudamos, as nossas fragilidades e forças também mudam, porque quem fomos ontem já não somos hoje, e muito depende de como queremos viver e ser daqui para frente.

Desejo que cada um possa ser o seu melhor com tudo o que se é, que tenha força para dizer não quero isto e quero aquilo, que tenha resiliência para os momentos onde tudo parece escuro e sanidade para os momentos de total efusão… porque o caminho do meio se constrói a cada momento por meio das escolhas e ações.

A vida não é perfeita, mas é boa!

Abraço,
Jaqueline Reyes

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